I ENCONTRO DO GRUPO DE TRABALHO NACIONAL PARA A DÉCADA INTERNACIONAL DAS LÍNGUAS INDÍGENAS
O I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032), com o tema “Políticas Linguísticas para o fortalecimento das línguas indígenas”, foi realizado na cidade de Manaus/AM entre os dias 9 e 11 de agosto de 2023, no Centro de Formação Xare (Conselho Indigenista Missionário – CIMI).
Como uma pauta fundamental para o GT Nacional, as políticas linguísticas têm destaque no “Plano de Ação” para a DILI, elaborado pelo GT Nacional e enviado ao GT Mundial da Unesco para a DILI em julho de 2021. No âmbito desse documento, as políticas linguísticas não devem estar dissociadas das condições sociais, econômicas, ambientais, do bem-viver dos falantes dessas línguas. Para tanto, o I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) teve como um dos seus resultados um documento que apresenta um conjunto de diretrizes para a criação de políticas linguísticas para línguas indígenas no Brasil entregue à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Bone Guajajara, e a presidenta da Fundação dos Povos Indígenas, Joência Wapichana.
Durante três dias, cerca de 110 participantes, indígenas e não indígenas: professores, linguistas, antropólogos, lideranças, sábios indígenas e pessoas interessadas na promoção das línguas indígenas estiveram reunidos discutindo a sobrevivências das línguas indígenas. Os participantes indígenas pertenciam a 33 (trinta e três) etnias das cinco regiões do país.
No dia 9 de agosto, tivemos a solenidade de abertura do evento com o ritual feito pelo representante do GT Sudeste, Luã Apyká, seguido de uma mesa de abertura com autoridades, transmitida virtualmente, e que contou com representantes do Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ministério dos Povos Indígenas, Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM), Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira E´taa, Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena (FOREIA), Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), Instituto Federal do Amazonas (IFAM), Fundação de Apoio ao Ensino Pesquisa Extensão e Interiorização do IFAM (FAEPI), Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, Kamuri Indigenismo, Ação Ambiental, Cultura e Educação, Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado do Amazonas.
Nesse mesmo dia, aconteceu uma mesa de discussão intitulada “Políticas linguísticas para o fortalecimento das línguas indígenas” que abriu as discussões do evento e apresentou as questões que nortearam os debates no evento. Essa mesa foi mediada por Ana Carla Bruno (Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia), e teve como debatedoras Altaci Corrêa Rubim (GT Mundial para a DILI e coordenadora Geral de Articulação de Políticas Educacionais Indígenas/ Departamento de Línguas e Memórias Indígenas/Secretaria de Articulação e Promoção dos Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas), Rosângela Morello (Instituto de Políticas Linguísticas (IPOL), Thaís Werneck (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Hein Van der Voort (Museu Paraense Emílio Goeldi) e Edilson Mergueiro Baniwa (Instituto Federal do Amazonas).
A segunda atividade do primeiro dia foi uma mesa de discussão sobre projetos de revitalização e retomada de línguas indígenas no Brasil e nos Estados Unidos, com a participação de Idiane Kariri Xocó (Alagoas), Márcia Kaingang (Rio Grande do Sul), Luã Apyká (São Paulo), Maurício Tapirapé (Mato Grosso) e Koodeik Joseph Marks (Tlingit, Alaska). Essa mesa foi fundamental para conhecermos iniciativas que têm o fortalecimento linguístico como um dos seus objetivos, mas que não se limita a ele, implicando numa perspectiva orgânica que permeia essas ações, relacionando língua, território e espiritualidade.
No segundo dia de evento, os participantes trabalharam em dois grupos de trabalho para discutir e sistematizar diretrizes e propostas para a criação de políticas para o fortalecimento e promoção das línguas indígenas. Ao final do dia, foi escolhida uma comissão para sistematizar as diretrizes e propostas construídas nos grupos de trabalho.
No terceiro e último dia de evento, foi realizado um grande ritual de encerramento conduzido por Altaci Kokama e Luã Apyká, um momento de fortalecimento e integração entre os participantes do evento. Como continuação das atividades, realizamos uma grande plenária para ler e aprovar o documento. Essa atividade de encerramento ainda contou com a participação especial das crianças do Centro de Línguas Lua Verde, do povo Kokama residente em Manaus.
Além dos momentos de discussão, dos GTs e da plenária, o evento foi cheio de musicalidade indígena. Durante os intervalos das atividades, tivemos a apresentação de cantos e danças do povo Kokama, Tukano, Apinajé, Kariri Xocó, Tikuna, Tlingit (EUA), Xipaia, Huni Kuin. Nas noites, os participantes se engajaram também em programações culturais com cantos, danças, exibição de documentários e compartilhamento de experiências de fortalecimento linguístico-cultural. Esses momentos promoveram uma profunda interação e engajamento dos participantes.
O I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) é parte de um momento histórico extremamente pujante, marcado pela força e pela articulação de indígenas comprometidos com suas línguas e ancestralidades, pelo fortalecimento da diversidade linguística do Brasil e do mundo. Como sempre nos afirma Altaci Kokama, é um novo tempo, no qual os espíritos das línguas e os ancestrais dos povos indígenas usam os sons do maracá, dos cantos dos rituais, de todos os seres viventes, para clamar por socorro e para frear o desequilíbrio e a ameaça à biodiversidade do planeta. A Década das Línguas Indígenas é um chamado pela sobrevivência da vida, das culturas, dos saberes e das línguas originárias.
É nesse espírito que o I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) e a Década das Línguas Indígenas é um momento estratégico de unirmos forças nacionalmente, articularmos outros indígenas, suas organizações e parceiros para trabalharmos por uma política linguística formulada e institucionalizada juntamente com os povos indígenas, considerando que já existem políticas linguísticas de base que devem ser reconhecidas e apoiadas para o fortalecimento e vitalização das línguas indígenas. O I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) é fruto de um esforço de muitos anos dos povos indígenas, é fruto de uma intensa articulação, é fruto de um movimento ancestral, pois o futuro é ancestral. Nada para nós sem nós!
Assim, no espírito do movimento de mulheres indígenas no Brasil, declarado no manifesto “Reflorestarmentes”, a Década das Línguas Indígenas no Brasil apresenta-se como um grande chamado ancestral para construirmos um novo tempo para as línguas indígenas brasileiras: fortalecendo nosso espírito, nossa ancestralidade, nosso território, nossa língua.